“Dois” – poesia minimalista
Daquele, um pode dizer:
‘Nunca mostrou su’alma,
Nunca nada prometeu’.
De um, quanto
Àquele, se pôde ouvir:
‘Assim fui livre
Todo o tempo
E todo o tempo pude ser eu’.

Liberdade. mas a que preço? – alguém pode pensar?
O que se pode querer, esperar, de um relacionamento amoroso?
Duas pessoas se buscam no amor e querem envolver-se, formar laços afetivos e querem, a princípio, que esse envolvimento seja bom e dure no tempo. Às vezes nem querem tudo isso, não se planejam, não pensam que relacionamentos se constroem…
Relacionar-se, como viver, é uma arte, mas também há ciência nisso, ou, pelo menos, a ciência pode estudar relacionamentos.
Algumas pessoas não procuram entender o que constroem ou deixam de construir; não observam, não analisam nem estudam os seus relacionamentos, mas, para todos os efeitos, estão ali, lado a lado, vivem efetivamente um relacionamento.
Já, ter qualidade no relacionamento, isso elas não sabem que podem ter, não.
Outras, ou as mesmas pessoas, diríamos, não escolhem bem os parceiros, não são felizes nas escolhas, e talvez diríamos mais coisas, mas o fato é que não se envolvem de verdade também.
Talvez nunca se deem conta de que não houve nem haverá envolvimento profundo, mas vivem, sobrevivem juntas e não sabem fazer melhor, nem têm noção de que daria para ser de outro jeito.
Daria para crescerem emocionalmente juntas, deveriam encontrar, nos relacionamentos afetivos que têm, muito de felicidade, bem-estar, equilíbrio emocional.
Acontece também de uma das pessoas ter noção do que quer para si; o outro lado não sabe, não se interessa. Apenas vive; se piorar não sabe o que fazer, não vai buscar ajuda, não sabe que existe ajuda profissional.
Se o outro souber conduzir, se for interessante e desafiador para ele continuarem juntos, a relação sobrevive. Ele pode ser bem feliz até; ter noção de que será assim e, se quiser e valer a pena, buscará sozinho sua realização em outras áreas da vida, sendo feliz e fiel ao relacionamento.
Valerá a pena, porque o outro tem índole boa, porque uma química especial os envolve, porque o outro também é fiel, porque têm filhos comuns, porque, apesar de tudo, construíram um patrimônio, não só financeiro, juntos, porque ali acontece o inexplicável e bom para eles.
No setor em que um não cresce, o outro pode fazer sua busca de realização solitária, por exemplo, em questão de conhecimento, cultura, sem esperar elogios, incentivos do outro.
Pode ser que um não chame o outro para se abraçarem, para estudarem, para irem ver o mar, o sol, a lua, a praia, o filme, a peça, pode ser que um não convide o outro para saírem para jantar, dançar, ler, correr,…
Se valer a pena, porque, embora tudo isso aconteça ou não aconteça, os dois têm valores comuns ou os dois respeitam reciprocamente os seus valores, e, por um milagre, ou fato inexplicável ainda para um deles ou os dois, tudo dentro e ao redor seja ou equivalha ao que se pode considerar funcional para um casal dar certo, então pode ser que permaneçam juntos, e um faça o que o outro não sabe, não se interessa, não atina com o que precisaria fazer.
Se um dia o outro não souber mais fazer o relacionamento deles parar de pé, aí, sim, tem-se uma questão, mas, enquanto um souber, valerá a pena perseverarem. Quando este um não mais souber ou não mais houver vínculo ou um casal, é provável que se separem, mas ninguém se sinta excluído; sejam respeitados, pelo que houve e valeu a pena entre os dois, pelos filhos que têm, pelo ser humano que cada um é, pelo equilíbrio e saúde emocional de cada um e dos filhos, etc..
O poema minimalista “Dois” foi escrito e publicado em outro site em 10-11-2017 e trazido hoje, definitivamente para este lugar, juntamente agora com a Reflexão sobre Liberdade.