|| Santo Antônio, São João, São Pedro e ‘seu’ Lourenço
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Santo Antônio, São João, São Pedro e ‘seu’ Lourenço

Santo Antônio, São João, São Pedro e ‘seu’ Lourenço

Dele eu também tenho saudades e do meu tempo de adolescência. Era bom o ‘seu’ Lourenço. Jogava baralho com os homens, rezava, participava das quermesses e das campanhas políticas…

Contava histórias de almas, de gente morta, de vivos metidos a corajosos que no fim se davam mal. Como aquele um que foi ao cemitério, ele contava, e, destemido, pregou um prego num túmulo. Quando foi sair, ‘alguém’ o puxou para trás, e ele caiu morto de medo. Foram ver, o coitado havia pregado sua capa junto ao túmulo e se enroscara, caindo em seguida…

Eram tantas as histórias, como a dos enterrados vivos também. À noite eu não dormia; quando ficava doente, morria de medo de morrer; não, de não morrer e me enterrarem viva. Daí pensava em ser deixada no alto de um castelo, para que apenas as aves me achassem e me consumissem…

Quando tornei a ver o amigo, ele já estava bem velho. Ainda pegava apenas nas pontas dos dedos da gente para cumprimentar. Só que a meninada percebeu que ele já não dava conta sozinho de si e tentava ‘ajudá-lo’, cumprimentando-o várias vezes. Iam ao portão e novamente chegavam:

_ Bom dia, ‘seu’ Lourenço.

Ele, muito educado, se levantava e estendia a mão para o bom dia da meninada safada. E voltavam ao portão para, de novo, cumprimentá-lo, arrebentando de tanto rir.

Contavam que à noite ele abria todas as portas procurando o banheiro e confundia o vaso sanitário com o bidê. Também cuspia no chão como, penso, faziam talvez em casas de sítio, só de chão de terra batida. Mas lá agora não era terra batida, não senhor, era ladrilho, pedra: tudo a mesma coisa para ele.

Como seu semblante continuava o mesmo, parecia que ele fazia malvadeza, mas não era; o tempo é que fora ingrato para com ele, fazendo-o alterar as maneiras educadas.

Quando soube de sua morte senti bastante e não pude prestar-lhe as últimas homenagens que recebeu neste mundo, mas guardo com carinho a sua lembrança. No céu ele deve ser festeiro, puxar o terço e soltar rojão nos dias de Santo Antônio, São João e São Pedro.

Escrito e publicado em 07-06-2008, reeditado em 29-11-2009, trazido hoje, 18-06-2019, definitivamente para este site.

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